Blog de Teatro Cacilda

19/04/2008

O que está errado com o mundo

Meses atrás, o diretor Rubens Velloso e o ator Marcos Azevedo, de “Play on Earth”, contavam com entusiasmo na sede do grupo Phila 7, na Lapa paulistana, da montagem de “What’s Wrong with the World”, novamente com conexões com o mundo. Se bem me lembro, desta vez nem envolveria a sede do império britânico.

A nova peça se restringiu afinal a Rio e Londres mesmo, mas a inovação do projeto se mantém. Estréia ou entra no ar hoje às 19h, até me chamaram para ver, mas não podia deixar São Paulo. Vou tentar acompanhar on-line, se é que o link vai aparecer em algum momento, em algum lugar.

Antes mesmo de estrear, “What’s Wrong with the World”, o que está errado com o mundo, repercute e abre controvérsia, não pelo que apresenta como teatro, no conteúdo ao menos, mas pelo que abraça de técnica.

Lyn Gardner, do “Guardian”, aproveitou a deixa para questionar anteontem o que vê como obsessão com aparelhos e eletrônica, não da parte do projeto unicamente, mas de todo o teatro contemporâneo em Londres. A tecnologia vira o espetáculo, em vez de servir ao espetáculo.

Ela tem lá sua razão, quando se recorda uma apresentação de “Play on Earth”: o sinal que caía sem parar, como luzes que se apagam no estádio de futebol, se sobrepôs ao andamento do espetáculo, com cenas ao vivo de Newcastle, São Paulo e Cingapura.

Mas é próprio do teatro, não tem como resistir, espelhar o tempo _e o tempo é de comunicação técnica, mais até, de relação social mediada, com reflexo inevitável no palco, por mais essencial e representado em “carne” que ele seja, como queria Artaud. Diz Velloso, hoje no Globo Online:

_ O espetáculo se compõe de uma relação de telas entre aqui e Londres. O que se busca é que não sejam vistos palco nem tela, mas uma coisa nova. Ainda estamos imersos em elementos de teatro, cinema, de videoarte, mas estamos caminhando para uma nova dramaturgia, exclusiva para os novos meios. Continuamos longe de encontrar essa nova relação, mas já demos um grande salto.

De todo modo, o terror da falha eletrônica, aquela mesma que já suspendeu estréias de Robert Lepage e Peter Stein, como lembra Gardner, está no ar neste momento, a poucas horas de estrear “What’s Wrong with the World”, no Rio e em Londres. Na descrição de Ian Shuttleworth, hoje no “Financial Times”:

_ Uma grande questão [o que está errado com o mundo] tratada de uma forma extraordinária. O grupo de performance experimental Station House Opera se linka ao vivo com o Phila 7 para criar um evento teatral apresentado simultaneamente em dois continentes. A ação ao vivo no bar do Soho Theatre, tarde da noite, será entrelaçada com links em vídeo com o Brasil, tudo para refletir sobre perda e descoberta. Uma hora de teatro pioneiro _desde que a tecnologia se comporte.

Escrito por Nelson de Sá às 13h34

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